pele é o maior órgão do corpo humano e no adulto pode representar 16% do seu peso. Ela reveste a superfície corporal e é vital para o funcionamento do organismo. Sua principal função é a homeostasia, atua também na defesa contra agressões físicas, químicas e biológicas e como órgão sensorial. Sua complexidade está associada aos vários tipos de tecidos: epitelial, conectivo, nervoso, muscular e vascular. Há uma grande capacidade renovadora de reparação e certo grau de impermeabilidade conferido pelo epitélio estratificado queratinizado. Nota-se uma variação regional da sua espessura e da quantidade de anexos cutâneos, nas regiões palmoplantares ela é mais espessa e na face temos grande número de glândulas sebáceas, por exemplo.
A pele pode ser dividida em três subunidades funcionais interdependentes que são a epiderme (mais externa), a derme (intermediária) e a hipoderme (mais profunda).
Epiderme
A epiderme é um epitélio estratificado (mais de uma camada de células), pavimentoso (células achatadas), queratinizado e avascular. A espessura da epiderme varia de 0,4 a 1,5mm, enquanto a espessura completa da pele varia de 1,5 a 4,0mm.
A maioria das células (90%) deste estrato são queratinócitos que se organizam em quatro camadas (basal, espinhosa, granulosa e córnea) e durante seu processo de diferenciação formam células anucleadas e ricas em queratina na superfície da pele. Em algumas áreas do corpo (região palmoplantar) há uma camada adicional, o estrato lúcido, que se localiza entre a camada granulosa e a córnea. Estão intercaladas entre os queratinócitos em diversos níveis, os melanócitos que produzem melanina, as células de Langerhans com função imunológica e as células de Merkel integradas ao sistema nervoso. Atravessando a epiderme, podemos observar ainda parte dos ductos das glândulas sudoríparas, o acrossiríngio e parte dos folículos pilosos, o acrotríquio.
Queratinócitos
Os queratinócitos são derivados da ectoderme e formam a barreira epidérmica, como o estrato córneo. A morfologia dos queratinócitos varia conforme a camada que se localizam, na camada basal são colunares, núcleo grande e oval e citoplasmas basofílicos. Apresentam filamentos intermediários ou tonofilamentos compostos por citoqueratinas (ck) e proteínas de queratina que se dispõe em torno do núcleo e se conectam ajudando a compor o citoesqueleto dessas células. Na membrana basal, o par característico de ck é o 5-14, as células estão alinhadas e ancoradas por estruturas especiais, como os hemidesmossomos. Em circunstâncias normais, o tempo de renovação epidérmica (queratinócitos) é de aproximadamente quatro semanas e as células da camada basal (células tronco) são as responsáveis pela regeneração da epiderme através da divisão mitótica. Devido sua capacidade em produzir substâncias com ação autócrina (agem sobre si), parácrina (age sobre outras células) e às vezes ação endócrina (agem à distância) participam ativamente dos processos inflamatórios e imunológicos além de sua função estrutural já mencionada.
Na camada granulosa os queratinócitos apresentam-se achatados, com núcleo central e cheios de grânulos basófilos de querato-hialino, que são compostos principalmente por profilagrina, filamentos de queratina e loricrina. A profilagrina é liberada dos grânulos e convertida em filagrina que promoverá a agregação e compactação dos filamentos de citoqueratina. A loricrina é uma proteína rica em cisteína e quando liberada pelos grânulos querato-hialinos, conecta-se a estruturas desmossômicas formando o envelope de célula cornificado. A espessura da camada granulosa é proporcional à camada córnea, em condições normais. No estágio final de diferenciação da célula granular ocorrem alterações autolíticas que levarão à apoptose da célula, mas preservando os filamentos de queratina e a matriz filagrina, com isso haverá a formação da camada mais externa da epiderme, a camada córnea.
Finalmente, há uma camada de células acidófilas de orientação horizontal, as células mais largas do organismo, com citoplasmas repletos de queratina, que formam o estrato córneo. Além da proteção mecânica, a camada córnea impede a passagem de água e de substâncias solúveis pela dupla camada lipídica, que é formada principalmente por colesterol, ceramida e ácido graxo, assim, mantém a homeostasia do indivíduo em sua relação com ambiente. Todas as camadas da epiderme mostram variações, mas o estrato córneo, em particular, pode variar de fino (locais de flexão) até espesso (palmas e plantas), onde inclusive observamos a camada lúcida que é constituída de uma delgada lâmina homogênea de células eosinofílicas e translúcidas.
Melanócitos
Os melanócitos são derivados da crista neural que reside na camada basal ao longo da junção dermoepidérmica. Nas colorações de rotina (hematoxilina-eosina) apresentam citoplasma claro, núcleo hipercromático, pequeno, ovóide e arredondado, mais basófilo que os queratinócitos, não possuem desmossomos e contem pigmentos na organela característica do melanócito, os melanossomos. Existem colorações especiais que revelam melanina como a de Fontana-Masson ou por imunoistoquímica (anticorpos que reconhecem antígenos específicos) Melan-A, HMB-45 e S100. Os melanócitos são responsáveis pela síntese de melanina o principal pigmento da pele, cuja principal função é proteger a pele contra efeitos deletérios dos raios ultravioletas. Há um melanócito para cada 4-10 queratinócito da camada basal. Correspondem a cerca de 5% das células epidérmicas e seus prolongamentos dendríticos transferem melanina para cerca de 36 queratinócitos, essa interação funcional entre melanócitos e queratinócitos é denominada de unidade epidermomelânica. Há variação étnica da tonalidade da pele que se deve a atividade do melanócito e não ao aumento do número destas células.
Células de Langerhans
As células de Langerhans são derivadas da medula óssea e compõe a imunovigilância cutânea. Têm a função de reconhecer, internalizar, processar e apresentar os antígenos solúveis e haptenos presentes da epiderme aos linfócitos T. São células móveis e dendríticas com citoplasma claro e apresentam um marcador citoplasmático específico, os grânulos de Birbeck, que se originam do processo de endocitose.
Na microscopia de luz as células de Langerhans podem ser demonstradas por técnicas histoenzimáticas como a ATPase e especialmente pela imunoistoquímica através do marcador CD1a. Representam 3-6% de todas as células epidérmicas e distribui-se da camada basal à granulosa, mas preferencialmente pela posição suprabasal. Além de estarem presentes na epiderme, podem ser encontradas nas mucosas; no baço, timo e linfonodos e ocasionalmente na derme.
Células de Merkel
As células de Merkel são derivadas de células-tronco epidérmicas e funcionam como mecanorreceptores de adaptação lenta em locais de alta sensibilidade tátil. Localizam-se na camada basal e unem-se aos queratinócitos por meio dos desmossomos, são mais frequentes em algumas regiões do corpo como: lábios e região da cavidade oral, pele pilosa (bainha externa dos folículos pilosos), pele das mãos e dos dedos. Apresenta o núcleo oval e citoplasma claro com grânulos eletro-denso, produzido pelo complexo de Golgi, que contêm os neurotransmissores relacionados com terminações nervosas no polo basal formando o disco de Merkel. Também podem ser evidenciados pela coloração especial de Uranafina e pela imunoistoquímica através do marcador de citoqueratina Nº 20 (CK20).
Elementos de adesão intercelulares
São três os elementos principais que permitem à adesão de uma célula a outra: Citoqueratinas, Tonofibrilas e os Desmossomos. As Citoqueratinas são proteinas sintetizadas pelos queratinócitos que vão se acumulando gradualmente no interior das células até a camada córnea. São essenciais na formação do citoesqueleto e dos desmossomos. A medida que o queratinócito se desenvolve outros tipos de citoqueratinas passam a ser formadas, por exemplo, na camada granulosa as citoqueratinas 1, 10, 6 e 16 e na camada espinhosa as citoqueratinas 5, 14 e 6b.
Na microscopia eletrônica podemos observar as tonofilbrilas que são filamentos intermediários de queratina que se ligam as placas de desmossomos (attachment plates) aumentando a adesão celular.
O Desmossomo ou mácula de adesão é uma estrutura complexa intracelular em forma de disco que é sobreposta a uma estrutura idêntica na célula adjacente. Proporcionam coesão intercelular por meio de atração eletrostática. A placa do desmossomo é constituída por várias cadeias protéicas (desmoplaquina e placoglobina) na qual estão inseridos os tonofilamentos e as ligações da transmembrana formados por desmogleínas.
Elementos de adesão dermoepidermicos
Zona de Membrana Basal
A região onde a epiderme e a derme se encontram contém inúmeras proteínas e está em constante estudo. Essa região denominada de membrana basal engloba desde a membrana inferior do queratinócito basal, cristas epidérmicas, até a derme superficial, papilas dérmicas. Essa estrutura complexa é responsável pela adesão dermoepidérmica, sendo o suporte para a epiderme e serve como barreira semipermeável. Microscopicamente são apresentados 4 compartimentos: hemidesmossomos, lâmina lúcida, lâmina densa e sublâmina densa.
Os hemidesmossomos funcionalmente assemelham-se aos desmossomos, são constituídos por placas de adesão intracitoplasmática composta pelo antígeno penfigóide bolhoso 1 e por plectina. Nas proteínas transmembranas destacam-se a presença do antígeno penfigóide bolhoso 2, cujos filamentos de ancoragem atravessam a lâmina lúcida e inserem-se na lâmina densa através das integrinas alfa-6 e beta-4.
A lâmina lúcida é a porção superior, logo abaixo da membrana plasmática, cujos componentes principais são a laminina e a fibronectina, colaborando para a adesão entre a membrana das células basal e a lâmina densa. Abaixo desta, a lâmina densa é formada predominantemente por colágeno IV, sintetizada pelos queratinócitos. Surgem fibrilas de ancoragem que penetram na sublâmina densa, porção mais superior da derme, o componente principal é o colágeno VII. Atravessando a zona de membrana basal as fibrilas de ancoragem que se prendem aos hemidesmossomos (integrinas) e formam complexos de adesão dermoepidérmica, fixando assim na epiderme.
Derme
É uma camada de tecido conjuntivo onde se apoia a epiderme e une a pele ao tecido celular subcutâneo ou hipoderme. A derme apresenta espessura variável de acordo com a região observada e varia de 15 a 40 vezes maior do que a epiderme. Sua superfície é irregular, observando-se saliências denominadas de papilas dérmicas, que acompanham as reentrâncias correspondes da epiderme. As papilas aumentam a área de contato da derme com a epiderme, reforçando a união entre essas duas camadas, são mais frequentes nas zonas sujeitas a pressões e atritos.
A derme é constituída por três camadas, de limites poucos distintos: a papilar (superficial) com grande celularidade, a reticular (mais profunda) com feixes grossos de colágeno dispostos horizontalmente e a adventicial disposta em torno dos anexos e constituída por feixes finos de colágeno.
A camada papilar é delgada, constituída por tecido conjuntivo frouxo que forma as papilas dérmicas. Nesta camada foram descritas fibrilas oxatalânicas, que se inserem por um lado da membrana basal disposta verticalmente e pelo outro penetram profundamente na derme. A grande maioria das fibras dérmicas é de colágenos, principalmente os tipos I e III, responsáveis pelo mecanismo de resistência da pele. Essas fibrilas contribuem para prender a derme à epiderme, estão conectadas à rede horizontal formada por fibrilas eulanínicas e estas se relacionam com as fibrilas elásticas maduras também dispostas de modo horizontal e atravessa toda a derme reticular. A camada reticular é mais espessa, constituída por tecido conjuntivo denso.
As fibras elásticas são responsáveis pela propriedade retrátil da pele, pode ser visualizadas pela coloração especial(orceina). Na papila dérmica elas são finas e na derme reticular ficam mais espessas.
As macromoléculas entre as fibras, células dérmicas e ao redor dos anexos cutâneos são glicoproteínas e proteoglicanas (principal componente é ácido hialurônico). Essas substâncias não são visualizadas em exames de rotina, mas são coradas pela coloração especial (alcian blue).
Além dos vasos sanguíneos e linfáticos, e dos nervos, também, são encontrados na derme as seguintes estruturas, derivadas da epiderme: folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas.
Hipoderme
O tecido da hipoderme é a camada mais profunda da pele, formada por tecido conjuntivo frouxo, que une de maneira pouco firme à derme. Os adipócitos são as principais células na hipoderme são arredondadas com citoplasma contendo grande quantidade de lipídeo, principalmente triglicerídeos. É a camada responsável pelo deslizamento da pele sobre as estruturas de suporte. Dependendo da região e do grau de nutrição do organismo, a hipoderme poderá ter uma camada variável de tecido adiposo que quando desenvolvida constitui o panículo adiposo. O panículo adiposo além de modelar o corpo, comporta-se como depósito de calorias, isolante térmico e protege as estruturas do organismo.
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